Uma vítima da omissão da Justiça

Preso por dez meses, Cleriston Pereira da Cunha morreu desamparado pelo Estado

Cleriston Pereira da Cunha é uma vítima do Estado. Da ação e da omissão perfeita da Justiça. Mais precisamente, da ação e da omissão pérfida de um homem: Alexandre de Moraes. A ação: um homem preso por dez meses por tempo indeterminado por ter entrado na praça dos três poderes no fatídico oito de janeiro.

Morto sem julgamento, dentro da cadeia, vítima das inúmeras comorbidades que o assolavam. A omissão: o senhor Alexandre sabia das doenças de Cleriston, sabia de seu estado. A PGR tinha recomendado sua soltura, em vista de seu estado de saúde e a imprecisão da acusação.

O senhor Alexandre nada fez. Deixou Cleriston morrer à míngua, desamparado pela Justiça que devia zelar por sua integridade física e zelar por um professor justo. Cleriston não teve nada disto.

No Brasil, traficantes, estupradores, assassinos têm todos os direitos garantidos por lei. Com dinheiro e bons advogados, nenhum permanece por muito tempo na cadeia.

Com dinheiro e bons advogados, passam anos a fio pelas quatro instâncias de julgamento previstas por lei. Com dinheiro e bons advogados, são na maior parte das vezes absolvidos, e quando condenados, têm suas penas reduzidas por inúmeras facilidades dadas por uma justiça complacente com os criminosos por razões humanitárias, dizem os juízes progressistas. Cleriston não teve direito a nenhuma humanidade. Não matou, não estuprou, não roubou, não torturou ninguém.

Cleriston, que não era criminoso, entrou no palácio onde criminosos reais são recebidos, desde o ditador assassino Nicolás Maduro à esposa condenada de um traficante e assassino condenado, até chegar ao próprio presidente da República — presidiário condenado por corrupção

Estava simplesmente na hora e no lugar errado. Por isso, foi submetido à tortura de, como homem doente, ficar um ano na cadeia até sua morte. Não era um criminoso. Das quatro instâncias, pulou para a última, condenado sumariamente pelo descaso e indiferença do juiz que deveria avaliar seu caso, pelo juiz que não avalia nenhum caso em específico, mas trata como gado toda pessoa que esteve perto do palácio dos três poderes naquela data de oito de janeiro.

Cleriston, que não era criminoso, entrou no palácio onde criminosos reais são recebidos, desde o ditador assassino Nicolás Maduro à esposa condenada de um traficante e assassino condenado, até chegar ao próprio presidente da República — presidiário condenado por corrupção, tirado da cadeia e guiado à presidência pelo mesmo tribunal que condenou Cleriston à morte por indiferença e omissão.

Horas após o anúncio da morte de Cleriston, o homem acusado de omissão pela sua morte — Alexandre de Moraes — é homenageado pelo presidente presidiário que foi descondenado por este mesmo homem que condenou Cleriston à morte pelo silêncio, omissão e inação.

Do outro lado de Brasília, do lado esquecido do Brasil, Cleriston era enterrado, sem prêmio, vítima de um crime de estado que enterrou sua vida e enterrou a justiça e a democracia no Brasil.

Um prêmio diz mais de quem o oferece que quem o recebe. Lula premiou Alexandre, o juiz carrasco que tem prendido, calado, torturado, censurado e arruinado todo aquele que se coloca na oposição de seu governo — a quem o próprio juiz carrasco chama de “extrema direita”.

No caso, premiador e premiado se casam perfeitamente — especialmente na cerimônia macabra cheia de sorrisos alegres sobre o enterro ignorado de Cleriston Pereira da Cunha, velado perto do lugar onde não deveria ter entrado e onde no mesmo momento celebravam a perseguição travestida de luta pela democracia. Lá, também premiados, os ministros da Justiça e de Direitos Humanos, que recebem e custeiam viagens da dama do tráfico; lá a ministra da igualdade racial premiada, que cria crimes de racismo onde não existem; lá premiada a primeira-dama Janja, que tece loas a uma ditadura assassina e compara vítimas de terroristas aos próprios terroristas assassinos.

Do outro lado de Brasília, do lado esquecido do Brasil, Cleriston era enterrado, sem prêmio, vítima de um crime de estado que enterrou sua vida e enterrou a justiça e a democracia no Brasil.

No Brasil todo dia morre um inocente
No Brasil todo dia se condena um inocente
Cleriston Era um inocente.
Morreu por sua inocência.
Seu crime era não saber
Por onde gritar sua esperança.
Seu crime era não saber
Por onde agir sua esperança.
Não eram inocentes os que assassinaram
Sua liberdade.
Não eram inocentes
Os que mataram
O lugar da esperança de sua liberdade
Sabiam seus assassinos
Dizer da liberdade
Da justiça,
Do governo do povo
Que esmagavam com justas palavras.
Não são inocentes os que silenciam sua morte
Comunicando a culpa
Dos que podem dizer algo
Dos que podem fazer algo
E nada dizem
E nada fazem
O lugar assassinado de Cleriston
Era sua procura desesperada
Pela ação que traduziria
A palavra justa de sua libertação.
A ação exata da palavra
Que libertaria seu povo
Do lugar de injustiça
Que o encarcerava.
Cleriston nunca achou
A justa palavra
A justa ação.
Trancafiado
Em sua busca por liberdade
Não soube dizer
Dos assassinos que tão bem falaram
E tão bem mataram a sua liberdade por viver.
Cleriston Pereira da cunha
É hoje e sempre
Um inocente.
Uma viva palavra inexata
Da liberdade de seu povo
Que teima em não morrer.

*Fonte: Revista Oeste