Em entrevista a Oeste, Marconi Perillo citou os erros que levaram os tucanos a perderem espaço no cenário nacional
Apoiado pelo ex-governador de Minas Gerais e atual deputado federal Aécio Neves (PSDB), o ex-senador Marconi Perillo se tornou o novo líder dos tucanos no fim de novembro de 2023. Aos 61 anos, o presidente da sigla já passou pelo MDB e pelo PP, mas agora tem a missão de colocar o PSDB entre os partidos protagonistas do país.
O primeiro grande desafio do partido se consolida nas eleições municipais deste ano. Segundo o presidente do PSDB, a sigla possui “capilaridade” na maioria dos Estados e municípios brasileiros.
“Estamos animados”, disse Perillo. “Vamos trabalhar para eleger prefeitos em capitais, em cidades grandes, médias e pequenas, além de eleger governadores. Nosso objetivo é eleger a quantidade de prefeitos que elegemos na eleição passada, de preferência um pouco mais. Nosso desejo é que o PSDB retome esse protagonismo político, como o grande partido que ajudou o Brasil a mudar para melhor.”
De acordo com Perillo, o PSDB cometeu erros que resultaram na diminuição do tamanho do partido, que atualmente conta com apenas dois senadores eleitos. Os tucanos perderam até mesmo a sala da liderança no Senado. No último pleito geral, o partido elegeu 13 deputados federais e, com a federação com o Cidadania, chegou à marca de 18 deputados na Câmara.
“As prévias se transformaram em um equívoco, pois dividiram o partido”, disse Perillo. “Tivemos também equívocos nas eleições de 2018, em que não conseguimos fazer a leitura adequada do momento. Ali se iniciava uma forte polarização.”
Ao comentar as eleições de 2022, em que o partido não teve candidato próprio à Presidência, o líder do PSDB destacou que, na ausência do ex-governador de São Paulo João Doria na disputa, a sigla deveria ter lançado o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para o posto. Na ocasião, o PSDB apoiou a candidatura proposta pelo MDB: Simone Tebet, atual ministra do Planejamento.
Natural de Palmeiras de Goiás, no interior do Estado, Perillo é filho de Marconi Ferreira Perillo e Maria Pires Perillo. Seu avô, Luiz Perillo, foi deputado estadual entre 1917 e 1924. O presidente do PSDB já foi assessor do ex-governador Henrique Santillo, deputado estadual, deputado federal e governador de Goiás por 16 anos — entre 1998 e 2006 e entre 2010 e 2018.
Perillo falou sobre a aposta do partido em Eduardo Leite para 2026, sobre as negociações para angariar mais senadores eleitos, sobre a possibilidade de Aécio Neves ser candidato ao governo de Minas Gerais em 2026.
Confira os principais trechos da entrevista.
Qual a expectativa do partido para as eleições municipais?
As expectativas são boas. O partido tem capilaridade na maior parte dos Estados e dos municípios brasileiros. É um partido que já entregou muito, tanto no governo federal quanto em cerca de cinco Estados brasileiros. Fez grandes administrações e nos municípios. É um partido que tem uma âncora de realizações no trabalho, nas reformas e nas políticas sociais. Estamos animados. Vamos trabalhar para eleger prefeitos em capitais, em cidades grandes, médias e pequenas, além de eleger governadores. Nosso objetivo é eleger a quantidade de prefeitos que elegemos na eleição passada, de preferência um pouco mais. Nosso desejo é que o PSDB retome esse protagonismo político, como o grande partido que ajudou o Brasil a mudar para melhor.
Qual avaliação o senhor faz do partido ao longo dos últimos anos?
O PSDB cometeu alguns erros, que fizeram com que diminuíssemos de tamanho. As prévias se transformaram em um equívoco, pois dividiram o partido. Tivemos também equívocos nas eleições de 2018, em que não conseguimos fazer a leitura adequada do momento. Ali se iniciava uma forte polarização. O PSDB buscou alvos equivocados e isso permitiu que a polarização se firmasse para valer no Brasil e estabelecesse dois polos de extremos, que acabaram nos prejudicando e prejudicando o país. Um erro foi não ter feito a leitura adequada para sobreviver às eleições de 2018 e, depois, as prévias que dividiram o partido e não permitiram que o partido lançasse um candidato a presidente. O fato de o partido não ter lançado um candidato a presidente em 2018, depois de ter lançado em todas as eleições presidenciais, foi um grande erro e estamos pagando caro. Reduzimos as nossas bancadas no Senado, na Câmara…isso foi muito ruim para a nossa imagem. Temos de ter bons candidatos e fazer boas gestões. Isso nos dá a garantia de continuar na vida pública e, sobretudo, ter a credibilidade, a confiança do eleitor.
O ex-governador Doria indicava que poderia concorrer à Presidência em 2022, mas desistiu e desfiliou do partido. Essa obsessão pela presidência atrapalhou o PSDB?
O que atrapalhou profundamente o partido foi fazermos uma prévia que, de certa forma, ruiu a nossa unidade interna e, depois, não termos tido candidato a presidente. O Doria afirma que não teve condições de ser candidato por causa de problemas com o partido. Mas o PSDB deveria ter lançado, na ausência do Doria, o governador Eduardo Leite. Ele chegou a dizer que estaria disposto a voltar, mas não teve ambiente. O partido já havia feito uma aposta na candidatura do MDB, que foi uma aposta completamente equivocada, errada. Isso prejudicou a todos nós.
O senhor enxerga um retorno do ex-governador João Doria ao PSDB?
Há algumas semanas, conversei com ele e ele me disse que jamais votaria para a política e disse de forma enfática e categórica. Agora o foco dele é negócios, business e a iniciativa privada.
Geraldo Alckmin, vice-presidente, era um tucano histórico. governou SP, mas fez uma escolha surpreendente no ano passado. Como o senhor avalia a escolha dele?
Foi uma perda grande. Fui colega do governador Geraldo Alckmin por quatro vezes. Sempre tive uma relação muito tenra e próxima a ele, onde a gente discutia problemas e soluções conjuntamente. Ele foi presidente nacional do PSDB e, na época, atuei como vice-presidente dele. Ajudei a coordenar a campanha dele em 2018. Ele saiu, alegando que não tinha espaço no PSDB. Foi um erro também nosso não termos dados a ele a segurança de uma postulação ao Estado de São Paulo. Continuo nutrindo por ele respeito, simpatia, admiração e torço para que ele faça um belo trabalho ao favor do Brasil.
A federação com o Cidadania deve continuar?
Sim. Fiz uma reunião com o presidente nacional do Cidadania, ex-deputado Contes Bittencourt, e, em seguida, ele designou dois membros do Cidadania. Eu também designei dois membros nossos para negociarem os eventuais problemas nas cidades brasileiras onde vamos disputar as eleições.
O Aécio deve pleitear algum cargo nas próximas eleições?
Ele quase se elegeu presidente da República pelo nosso partido. Ele foi duas vezes governador de Minas Gerais e fez governos exemplares, competentes, com entregas, com soluções de problemas em todas as áreas do Estado. Foi um governador referencial e saiu do governo com quase 90% de aprovação. Se ele for candidato ao governo de Minas, terá o apoio integral do PSDB.
O partido pretende ter um nome ao governo de MG, mesmo que Aécio não queira concorrer?
Prefiro acreditar que o Aécio é pré-candidato e que será o nosso candidato. Mas o futuro a Deus pertence. Vamos esperar.
Como o partido espera construir a candidatura do Eduardo Leite à Presidência em 2026?
Nosso desafio será quebrar a polarização e mostrar que há inteligência fora dos extremos, que há possibilidade de construirmos um grande futuro com boas ideias, bons projetos, boas experiências e condições objetivas para fazermos bons governos com resultados muito expressivos para a população. É trabalhar para apresentarmos projetos com soluções para os problemas e focar naquilo que interessa o Brasil: qualificação do jovem, internet, educação, geração de emprego, governança que considere a importância de reduzir o gasto público, governança que faça entregas para a população e que resulte em redução de desigualdade sociais, regionais. As pessoas querem ter segurança e não só segurança pública, mas a segurança previdenciária, segurança para emprego, para moradia…Essa é a palavra-chave. Dar segurança para que as pessoas vivam com dignidade em um país do tamanho do nosso.
O senhor citou a “inteligência fora dos extremos”. O partido tem desafios com a pauta dos costumes?
Acho que o PSDB tem de se concentrar nas pautas que sejam absolutamente relevantes, como pauta econômica, social…em relação às pautas de costumes, temos de deixar que cada parlamentar e militante decida de acordo com a sua consciência. Ao lado disso, defendo que o partido realize um Congresso daqui a algum tempo para debater todos os temas importantes para o país. Aí, teríamos uma posição mais definida, em que a maioria estabeleça para onde deve andar o partido.
Como o senhor avalia a gestão da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra?
Sou um admirador da governadora Raquel Lyra desde quando ela era prefeita. É uma líder diferenciada, qualificada e preparada para exercer essa função de governadora e outras funções lá na frente. O partido está comprometido com a reeleição dela e compreende que ela, como governadora, pode ter total independência para fazer todas as parcerias e todos os acenos que ela achar pertinentes para estabelecer uma boa condição. Ela não é demagoga, não é populista.
Com relação ao Senado, o partido perdeu recentemente a sala da liderança e mantém apenas dois senadores filiados. Quais os planos do partido para as eleições majoritárias no Congresso?
Tenho conversado muito com o senador Izalci Lucas (DF) e também conversei com o senador Plínio Valério (AM). A nossa garantia é de total apoio a eles e de busca de nomes novos no Senado, que possam agregar valor e acrescentar à nossa bancada, assim como também na Câmara dos Deputados, para fortalecer a nossa bancada.
A ideia é filiar senadores já eleitos?
Completamente. Filiar senadores agora e trabalhar para podermos eleger mais senadores. As conversas com os outros senadores já estão acontecendo.
Como o senhor avalia o primeiro ano do governo Lula?
O PSDB é um partido de oposição. Temos feito críticas pontuais, nada de críticas pessoais ou destrutivas. Jogamos a favor do Brasil. O gasto público está acima da média. Precisa ter um cuidado com a responsabilidade fiscal, com o equilíbrio fiscal. Vejo lideranças importantes do PT dizendo que o partido não tem que ter compromisso com o gasto público. O descumprimento das regras e metas fiscais: isso é um equívoco total, pode levar o Brasil a uma situação temerária. Esse número altíssimo de ministérios também é um equívoco muito grande. O apoio do presidente Lula a algumas ditaduras mundo afora me deixa muito contrariado. Ele prega democracia, fala que é contra os atos do 8 de janeiro, mas, ao mesmo tempo, apoia regimes ditatoriais, como o da Venezuela. Não está certo. Vamos continuar apontando esses erros. Mas, além disso, temos o que comemorar: a aprovação da reforma tributária, uma obra conjunta do povo brasileiro.
*Fonte: Revista Oeste