Jornal Estadão afirma que postura agrada a Rússia, China e esquerdistas
O jornal O Estado de S. Paulo, em editorial publicado na edição desta sexta-feira, 12, criticou a “diplomacia estouvada” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por apoiar a ação da África do Sul à Corte Internacional de Justiça de Haia na qual acusa Israel de genocídio contra os palestinos da Faixa de Gaza.
“O Brasil só tem a perder se imiscuindo dessa forma lamentável numa questão muitíssimo complexa — e para a qual não está devidamente apetrechado para exercer qualquer influência relevante”, afirmou o Estadão, ressaltando que essa leviandade mostra que falta, no mínimo, prudência a quem quer posar de estadista.
O jornal lembra que a acusação da África do Sul, endossada por Lula, não leva em conta que Israel foi atacado pelo grupo terrorista Hamas e de que não há provas de genocídio contra Israel, e, no sentido contrário, o objetivo declarado do grupo terrorista Hamas — que deu início ao conflito — é exterminar o povo judeu, da mesma forma como pretendia a Alemanha nazista.
“Não é trivial acusar de ‘genocídio’ um país cuja existência se legitimou justamente por causa da tentativa de genocídio do povo judeu na Europa por parte da Alemanha nazista. Também é particularmente grave acusar Israel de ‘genocídio’ sem considerar que o país só atacou Gaza depois de ter sofrido um massacre inaudito por parte de um grupo palestino que defende a dizimação do povo judeu”, explica jornal.
‘Lula consegue aplauso apenas da Rússia e da China’, critica o Estadão
O Estadão lembra que Lula pretende agradar à militância esquerdista majoritariamente contra Israel, mas sua falta de prudência pode ter consequências negativas para o Brasil. “Ciente de que a acusação de ‘genocídio’ contra Israel é voz corrente entre a militância esquerdista no Brasil e no mundo, Lula adere ao exagero retórico na expectativa de parecer um humanista, sem se preocupar muito com as consequências práticas de seus atos e palavras em relação aos interesses do Brasil que ele governa.”
Uma das consequências é minar a confiança na tradição de equilíbrio do Brasil nas relações internacionais, “sem que fique claro o que o Brasil ganha em troca — a não ser, é claro, o aplauso dos ditadores e autocratas do tal ‘Sul Global’, bloco liderado por China e Rússia, que se presta a antagonizar o Ocidente”.
O jornal lembra, ainda, que Lula, no conflito entre Rússia e Ucrânia, “tem sido bastante compreensivo com a Rússia do ditador russo Vladimir Putin depois que esta, sem nenhuma justificativa, invadiu a Ucrânia e cometeu ali uma série de crimes de guerra”. O petista também nunca se manifestou contra os crimes da China contra a minoria uigur. “Nada como a solidariedade entre os sócios do ‘Sul Global’, critica o editorial.
O Estadão conclui que a ilusão de estadista que Lula tenta vender se dissipa com posturas como essas, que “só revelam que ainda lhe falta o básico para esse reconhecimento: a cautela diplomática e a firmeza na defesa de princípios humanistas acima de qualquer interesse político-ideológico”.