Estadão observa ‘decomposição de Moro’ e ‘redenção moral’ de investigados por corrupção

O time da Lava Jato é acusado de ter supostamente obrigado um empresário e um ex-deputado estadual do Paraná a atuar como um ‘agente infiltrado’

O jornal O Estado de São Paulo acredita que o ex-juiz da operação Lava Jato e hoje senador da República Sergio Moro (União Brasil-PR) está em “acelerado processo de decomposição”

“No inesquecível desabafo do presidente Lula da Silva em março do ano passado, ao comentar seus dias na prisão, havia um quê de maldição: ‘Só vai estar tudo bem quando eu f… esse Moro’”, informou o jornal em editorial publicado, neste domingo, 21. “Ao que parece, não era apenas o petista que estava com essa obscena disposição de vingança contra Sérgio Moro.”

O veículo relembrou que, em dezembro de 2023, o ministro Dias Toffoli do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de um inquérito na Suprema Corte contra Moro e algumas das “estrelas do time da Lava Jato”. A solicitação partiu da Procuradoria-Geral da República.

O time da operação é acusado de ter supostamente obrigado um empresário e um ex-deputado estadual do Paraná a atuar como um “agente infiltrado” para “grampear” políticos e empresários. O inquérito está sob sigilo.

“A esta altura, pouco importa o desdobramento desse caso”, argumentou o jornal. “Pode-se dizer que a eventual comprovação de inocência de Moro e dos demais suspeitos é irrelevante, pois o estrago para a reputação dos envolvidos já estará feito.”

A ‘justiça poética’ contra a Lava Jato e Sergio Moro

Moro | Rodrigo Gaião defendia o ex-juiz nos processos no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) | Foto: Isac Nóbrega/Agência Brasil
Foto: Isac Nóbrega/Agência Brasil

Conforme o Estadão, algumas pessoas podem enxergar nessa história uma “justiça poética”, pois a Lava Jato usou “consciente e ativamente” o vazamento de “pormenores picantes” das investigações como uma “antecipação” do julgamento dos suspeitos.

Isso, segundo o jornal, levou a opinião pública a relacioná-los à corrupção e a outros crimes diversos antes mesmo de “qualquer comprovação”, mas muitas vezes com base em delações e ao “arrepio das garantias constitucionais”.

“O infortúnio de Sérgio Moro e do time da Lava Jato não parece ser um fato isolado, e sim parte de uma espiral de desmoralização total da operação que messianicamente pretendeu salvar o Brasil da corrupção”, continuou o veículo.

Para o Estadão, desde quando o STF desqualificou Moro para julgar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, parece que há uma “sistemática tentativa de tratar a Lava Jato como essencialmente maligna e de considerar que todos os acusados pela operação como pobres vítimas do lavajatismo”.

“A julgar pelo andar da carruagem, descobriremos em breve que nunca houve corrupção na Petrobrás, que todas as provas e confissões foram inventadas e que tudo não passou de um plano doentio para destruir reputações e para arruinar o Brasil – como, aliás, voltou a afirmar o presidente Lula da Silva“, avaliou o jornal.

Segundo o Estadão, com a “aniquilação moral de Sérgio Moro e da Lava Jato”, a consequência natural é a “redenção moral” dos que foram “pilhados” em “falcatruas diversas ao longo das trepidantes investigações anticorrupção na história recente”.

“Obviamente não se trata de ver aí uma ação consertada entre os diversos interessados, ainda que seja tentador ligar os pontos, mas é inevitável constatar que há poucos insatisfeitos com o destino de Sérgio Moro – desmoralizado por Bolsonaro, desqualificado pelo Supremo e possivelmente despejado do Congresso”, concluiu o veículo. “Que fim melancólico para aquele que se dispôs a ser a palmatória do mundo.”

*Fonte: Revista Oeste