Atual presidente perde aprovação entre jovens, negros e hispânicos. E a maior ironia: só se mantém forte entre… os brancos privilegiados
A ex-primeira-dama Michelle Obama está perdendo o sono com o possível resultado do pleito norte-americano em 2024. Foram suas palavras literais em uma entrevista, em que acrescenta que “está aterrorizada com o que pode acontecer”.
Não parecem as palavras de alguém da torcida Biden, capaz de derrotar o rolo compressor Trump em 2020, com as grifes Clinton e Obama de suporte, e tendo toda uma mídia a constantemente incensá-los — a ponto de se ter descoberto que o Partido Democrata “pautava” a mídia. Ou, como corrigiu o analista Eddie Scarry, fazia conluio com a mídia. Michelle Obama, segundo revelação dos Twitter Files, fez pressão pessoalmente pela remoção do perfil de Donald Trump do Twitter durante as últimas eleições norte-americanas. Além de tudo, tal como aqui, a esquerda norte-americana possui o discurso de que eles próprios são a democracia feita carne e de que Trump não pode concorrer por ordem judicial, como alguns Estados já tentam fazer.
Então, qual o motivo para pânico, se Trump dividirá notícias de comícios com a de idas a tribunais por, supostamente, destruir a fundação da América? Bem, Trump vem ganhando terreno exatamente onde os Democratas se julgam imbatíveis: entre os hispânicos (cristãos que só possuem lealdade aos Democratas perto da fronteira), negros e jovens. Um eleitorado-chave para a complexa vitória de Biden em 2020.
Uma pesquisa do New York Times e do Siena College revelou vantagem de Donald Trump de 49% a 43% sobre Biden entre eleitores de 18 a 29 anos. De acordo com o Pew Research, Biden venceu nessa faixa etária em 2020 por 59% a 35%. É a primeira vez que um candidato Republicano tem vantagem nesse segmento desde 1988.
O resultado gerou uma dúvida, pela terceira eleição consecutiva, sobre se os números devem ser levados a sério — desta vez, num movimento inverso ao das pesquisas que cravaram Hillary Clinton como “já eleita” em 2016. Michelle Obama não é uma voz solitária. Da CNN à Economist, o alerta soou: “O perigo para a reeleição de Biden é real”.
O mercado de análise correu para aventar hipóteses, já que os Democratas, hoje, vivem muito mais da política de identidade do que da prática. De acordo com estudo de outono da Harvard Youth Poll, os jovens — incluindo os pobres —, apesar de não morrerem de amores por nenhum candidato, confiam mais em Trump quando a questão é a economia, a segurança nacional, a guerra entre Israel e o Hamas, a imigração e o fortalecimento da classe trabalhadora. A confiança em Biden é maior em questões como mudanças climáticas, aborto, violência doméstica e “proteger a democracia”.
O que as pesquisas revelam sobre Biden
O resultado é revelador para o grande conflito entre esquerda e direita. Trump é vencedor em todos os aspectos práticos, nos quais as ideologias juvenis perdem seu apelo — todos amam frases como “construa pontes, e não muros”, até sua vizinhança ser invadida por cartéis mexicanos e a hégira muçulmana sem o respeito ocidental pelas mulheres. Biden, como é o clichê da esquerda, é vencedor absoluto em questões que tratam o imaginário sem aplicação nenhuma no mundo concreto. Seu apelo está em questões imprecisas, como “mudanças climáticas”, ou meramente retóricas, como “proteger a democracia”, além de defender o aborto no altar do hedonismo.
Não há muito argumento sobre “democracia” e o suposto “risco de golpe” no Capitólio quando, descendo os degraus até o térreo da realidade, as consequências da política envolvem duas guerras com potencial de se arrastarem, e nas quais Biden vem se mostrando um perdedor absoluto: na Ucrânia e entre Israel e o Hamas. E como esquecer o desastre no Afeganistão, onde a política apressada — e ideológica — de Biden de retirar tropas norte-americanas aos empurrões entregou o país ao Talibã, depois de 20 anos da guerra mais fracassada da história do país? A cena de helicópteros norte-americanos nas mãos de talibãs carregando homens enforcados tem um peso específico para o norte-americano: são eles próprios que vão para a guerra, principalmente os jovens. E Biden não tem se mostrado um líder, apesar de toda a retórica sobre, digamos, “mulheres trans”.
Trump pegou um mundo que sofria um atentado horrível do Estado Islâmico por mês e entregou uma América — e um planeta — mais seguros, não importando quanto a mídia reclame de seu estilo boquirroto e sua verborragia violenta sobre mulheres no passado.
Os discursos inflamados sobre “aquecimento global” são capazes de fazer páreo a um mundo com risco de guerra entre China e Taiwan, com Coreia do Norte falando em “guerra inevitável” com a Coreia do Sul, com a Suécia e a Holanda conclamando os próprios cidadãos a se prepararem para a guerra com a Rússia? O clima esquenta de outra forma no mundo real e longe da CNN.
A dor dos norte-americanos
Mesmo na situação local, temas como inflação, risco de recessão (uma bolha maior do que a de 2008 apenas não estourou por manobra do governo para ocultá-la), o ocaso do dólar como moeda forte do mundo, a crise imigratória na fronteira sul e a erosão do poder de compra dos pobres talvez valham mais do que o discurso já surrado de “defesa da democracia”, que prega apenas para convertidos — e dos mais fanáticos.
Apesar de enxergarmos os eleitores norte-americanos — e brasileiros — como estanques, há um território extremamente movediço — e os jovens podem ser o fiel da balança. Mais uma vez, os swing states norte-americanos, que mudam de lado de um ano para o outro, onde a batalha realmente ocorrerá, serão Arizona, Georgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Biden tem perdido nas pesquisas em todos eles. Entre 2016 e 2020, hispânicos, com sua lealdade apenas longínqua aos Democratas, se moveram 18 pontos em direção aos Republicanos. Democratas também sofrem baixas no eleitorado negro.
Ironia das ironias para o partido que se vangloria de suas políticas identitárias, o voto Democrata parece garantido apenas entre os privilegiados brancos com diploma superior, que podem ignorar a inflação e nunca seriam convocados para uma guerra — sem os brancos da elite, o Partido Democrata perderia completamente a competitividade em nível nacional.
*Fonte: Revista Oeste