Em depoimento, João Muniz Leite disse que não sabia do envolvimento do cliente com o tráfico de drogas
Durante um depoimento à Polícia Civil de São Paulo, o contador João Muniz Leite admitiu ter trabalhado por cerca de cinco anos para um dos principais traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Muniz foi contador do filho de Lula, Fábio Luís Lula da Silva, e já chegou a prestar serviços para o próprio Lula.
As informações foram publicadas em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta terça-feira, 20.
No depoimento, o contador alega que conhecia seu cliente, Anselmo Becheli Santa Fausta, de apelido “Cara Preta”, por outro nome — Eduardo Camargo de Oliveira — e que, sob esse pseudônimo, o traficante pedia auxílio de Muniz para comprar empresas e lavar parte do dinheiro do narcotráfico. Ele também disse não saber das atividades criminosas de Anselmo Becheli.
Cara Preta foi assassinado em 27 de dezembro de 2021, em Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Ele estava ao lado de seu motorista, Antonio Corona Neto, o “Sem Sangue”. Em junho de 2022, a 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da Justiça Estadual de São Paulo determinou o bloqueio de R$ 45 milhões em imóveis e ônibus de integrantes do PCC e do contador.
O bloqueio foi feito sob a suspeita de que Muniz utilizava o dinheiro dos esquemas criminosos para fazer apostas em loterias. No mesmo depoimento, o contador afirma ter ganhado 250 vezes, sendo 55 vezes apenas em 2021. Ele estima que a soma dos prêmios chegue a R$ 20 milhões.
Sua primeira aposta foi feita com dinheiro dado por Cara Preta, cerca de R$ 8 mil para que ele e o contador pudessem participar de um bolão.
Com o dinheiro dos prêmios, afirmou ter comprado duas casas para funcionárias de seu escritório, três apartamentos e ajudado familiares em dificuldade, além de quitar uma dívida de R$ 6 milhões, o que explicaria, segundo ele, o fato de a Justiça ter bloqueado apenas R$ 500 mil em sua conta.
As conexões de Muniz com Lula
Por muitos anos, Muniz foi um dos homens de confiança do advogado Roberto Teixeira, o compadre de Lula, informa o Estadão. Ele também trabalhou como contador do filho do presidente Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, e já prestou serviços para o próprio Lula.
O contador chegou a ser ouvido como testemunha durante a Operação Lava Jato no processo do caso do triplex do Guarujá, pelo então juiz Sergio Moro. Na ocasião, Muniz afirmou que fez a declaração de Imposto de Renda de Lula entre os anos de 2011 e 2015, no escritório de Roberto Teixeira, a quem prestou serviços por 14 anos. Muniz atuava como contador de suas empresas, que incluem um escritório de advocacia e duas firmas de administração de imóveis.
A oitiva foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF) na investigação sobre a possível falsificação de recibos de um imóvel vizinho ao de Lula, em São Bernardo do Campo. O contador negou que os recibos fossem falsos.
De 11 de novembro de 2019 até 31 de julho de 2023, segundo dados da Junta Comercial de São Paulo, Lulinha manteve uma de suas empresas, a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda., registrada no mesmo endereço do escritório de Muniz, em Pinheiros, na zona oeste da capital.
A defesa de Lulinha diz que as investigações sobre Muniz nunca atingiram o filho do presidente. Já o Palácio do Planalto afirmou que Lula não tem laços com o contador, que fez apenas poucas vezes a declaração de Imposto de Renda do petista.
*Fonte: Revista Oeste