Interferência de Lula na Petrobras desviou foco de prejuízo de R$ 500 milhões

Decisões do petista na estatal foram divulgadas pouco tempo depois de o Tribunal de Contas da União encontrar irregularidades no contrato com a Unigel

A interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pagamento de dividendos extraordinários pela Petrobras desviou o foco de um contrato que pode gerar um prejuízo de meio bilhão de reais para a estatal.

Lula passou por cima de uma decisão da diretoria-executiva, da qual Jean Paul Prates, presidente da petroleira, faz parte. O petista defendeu a ideia de que a empresa não deve pagar os dividendos extraordinários. A diretoria havia proposto o pagamento de 50% do valor possível para os acionistas.

Segundo informações da agência de notícias Reuters, o presidente quer que a Petrobras use os ganhos obtidos em 2023 para aumentar os investimentos. Em uma reunião, a maioria do Conselho de Administração decidiu por destinar o montante para uma reserva estatutária de remuneração de capital.

A decisão capitaneada por Lula, no entanto, ocorreu pouco tempo depois de o Tribunal de Contas da União (TCU) informar que o contrato da Petrobras com a petroquímica Unigel pode causar um prejuízo de quase R$ 500 milhões à estatal.

O contrato foi firmado em 29 de dezembro de 2023, num momento em que as fábricas de fertilizantes arrendadas à Unigel enfrentavam paralisações por questões financeiras.

O acordo entre as empresas permitiu a retomada das atividades das fábricas de fertilizantes da petroleira na Bahia e em Sergipe. Segundo a área técnica do TCU, há “indícios de irregularidades” no contrato, como falha nas justificativas para a realização do negócio, falta de assinatura de instâncias superiores da companhia no contrato e o fato de a Petrobras assumir os riscos do negócio em um cenário de mercado desfavorável.

O ministro Benjamin Zylmer, do TCU, afirmou que, ao manter o contrato de arrendamento ao mesmo tempo que contrata a Unigel de forma terceirizada para operar a fábrica de fertilizantes, a Petrobras “passa a fornecer o gás e receber fertilizante, tornando-se responsável por sua comercialização, assumindo o ônus de uma operação deficitária de quase meio bilhão de reais em um período de oito meses”.

A própria estatal, na análise de risco do contrato de tolling (contrato de industrialização por encomenda), teria reconhecido o risco de prejuízo, mas disse que outras alternativas seriam mais onerosas.

Antes da interferência de Lula, Petrobras anunciou investigação

Petrobras Venezuela
Petrobras disse que vai apurar os detalhes do contrato com a Unigel | Foto: Reprodução/Twitter/X

Alguns dias antes de a interferência de Lula ser divulgada, a imprensa noticiou que a Petrobras instaurou uma sindicância para apurar os detalhes do contrato com a Unigel.

A companhia investiga se William França, diretor-executivo de Processos Industriais e ex-dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), simulou uma greve nas unidades de fertilizantes da Unigel para pressionar pela assinatura do contrato.

Segundo o jornal O Globo, o diretor teria mencionado em uma conversa no Microsoft Teams, aplicativo usado para encontros virtuais, a necessidade de orquestrar uma greve. Isso justificaria a urgência em finalizar o contrato, sob a alegação de que, sem ele, as fábricas seriam fechadas. As consequências seriam as reações sindicais e as possíveis greves na petroleira.

*Fonte: Revista Oeste