Empresa da faccionado comprou telhas para “sindicato de vereador”, revela PF

Gordão pagou R$ 10,5 mil e mandou entregar no Sindarf; grupo era chamado de gente nossa

Um dos alvos da Operação Ragnatela, deflagrada na manhã desta quarta-feira (5), o vereador Paulo Henrique (PV) teria utilizado um sindicato, do qual é presidente, para receber propinas dos integrantes da organização criminosa ligada ao Comando Vermelho. O grupo, que lavava dinheiro com a realização de shows e a aquisição de casas noturnas, chegou a comprar telhas para o parlamentar, que teriam sido entregues na entidade sindical.

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso (FICCO-MT) deflagrou, nesta quarta-feira (05.06), a Operação Ragnatela para cumprir mandados de prisão preventiva, busca e apreensão, sequestro de bens, bloqueio de contas bancárias e afastamento de cargos públicos, para desarticular um núcleo de facção criminosa responsável pela lavagem de dinheiro em casas noturnas. A investigação da Ficco-MT identificou que criminosos teriam adquirido a casa noturna Dallas, em Cuiabá, pelo valor de R$ 800 mil, pagos em espécie, com o lucro auferido por meio de atividades ilícitas.

A partir de então, o grupo passou a realizar shows de MCs nacionalmente conhecidos, custeado pela facção criminosa em conjunto com um grupo de promotores de eventos. Entre os alvos de busca e apreensão, estão o vereador, que teve um Jeep Compass apreendido pelos agentes da Polícia Federal, além de um ex-secretário adjunto da Secretaria Municipal de Ordem Pública e Defesa Civil de Cuiabá (SORP), morto em março deste ano, e um agente de fiscalização.

Eles atuavam de forma a liberar a realização de shows da organização criminosa, em troca de propinas, conforme aponta a decisão do juiz João Francisco Campos de Almeida, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), que autorizou a operação. “No tocante à operacionalização dos eventos e funcionamento das casas noturnas, insta salientar o papel desempenhado pelo vereador Paulo Henrique De Figueiredo Masson, do Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Ordem Pública e Defesa Civil de Cuiabá (SORP), Benedito Alfredo Granja Fontes, e do Agente de Regulação e Fiscalização da SORP Rodrigo Anderson de Arruda Rosa. O grupo criminoso conta com o auxílio dos agentes supracitados, os quais flexibilizam a concessão de licenças e alvarás durante a realização dos eventos, recebendo, em contrapartida, benefícios financeiros de forma direta e indireta do grupo responsável pela promoção dos shows, ou seja, G12 Eventos e integrantes do Comando Vermelho”, diz a decisão.

As investigações apontaram que o vereador utilizava o Sindicato dos Agentes De Regulação e Fiscalização do Município De Cuiabá (Sindarf), do qual é presidente, como forma de lavagem de capitais da organização criminosa e para receber propina. A quebra de sigilo fiscal de uma das empresas investigadas, apontou a compra de telhas, no valor de R$ 10.545,00.

O montante foi pago pela empresa W A Da Costa Pereira, de propriedade de Wilian Aparecido da Costa Pereira, o “Gordão”, cujo endereço indicado na compra para a entrega das telhas foi o do Sindicato ao qual Paulo Henrique é o presidente. Segundo os investigadores, isso reforça ainda mais o laço entre o vereador e a organização criminosa, configurando mais um indício de que ele se utiliza do sindicato para suas operações financeiras ilícitas.

GENTE NOSSA

As investigações destacaram ainda que os fiscais envolvidos no esquema investigado foram identificados como sendo Rodrigo e Benedito Alfredo Granja Fontes, que morreu em março deste ano, em decorrência de um câncer. Eles eram nomeados como “gente nossa” pelo grupo e, ao analisar os dados bancários de Rodrigo Anderson de Arruda Rosa, identificou-se uma relação financeira com Benedito Alfredo e Rodrigo Leal, em que foram identificadas 12 transações realizadas, totalizando R$ 223.128,50, cujo valor e a natureza das transações sugerem a venda de algum bem de grande valor entre os investigados ou uma relação financeira obscura.

Em nota, a Prefeitura de Cuiabá afirmou que abrirá um procedimento interno para apuração da conduta do agente de fiscalização Rodrigo Anderson de Arruda Rosa. A administração da capital reforçou ainda que atuará de acordo com a legislação vigente, atendendo a prazos e os procedimentos necessários, ao procedimento administrativo e que está à disposição das autoridades para colaborar com informações necessárias ao inquérito policial instaurado.

Leia a íntegra da nota:

Nota à imprensa

Quanto a ação policial desencadeada na manhã desta quarta-feira (5), a Secretaria Municipal de Ordem Pública esclarece:

– Abrirá procedimento interno para apuração da conduta do agente de fiscalização;

– Reforça que atuará de acordo com a legislação vigente, atendendo a prazos e os procedimentos necessários, ao procedimento administrativo;

– Está à disposição das autoridades para colaborar com informações necessárias ao inquérito policial instaurado.

*Fonte: FolhaMax