Alvo da Lava Jato, organização utilizou 100 mil militantes para defender petista, combater Bolsonaro e disseminar desinformação
O Instituto Lula, que está fora dos holofotes desde a Operação Lava Jato, mobilizou em 2022 cerca de 100 mil militantes para divulgar pelo WhatsApp mensagens pró-Lula e contra Jair Bolsonaro (PL). Após a vitória de Lula, os grupos continuaram ativos para disseminar campanhas a favor do governo e contra o ex-presidente, além de “desinformação”, segundo reportagem do jornal O Estado S. Paulo.
De acordo com a publicação, a concepção inicial desse plano foi de Paulo Okamotto, ex-sindicalista, ex-presidente do instituto e coordenador da campanha de Lula em 2022. Ele contou com o apoio de estrategistas da equipe de Bernie Sanders, do Partido Democrata. Atualmente, a equipe do ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação, utiliza esses grupos.
Em entrevista ao Estadão, Okamotto afirmou que o instituto é “apartidário” e que os grupos de WhatsApp eram geridos por voluntários. Okamotto disse que tinha como objetivo “fortalecer a presença” no WhatsApp e “combater fake news“.
Estratégias de comunicação e disseminação
O Estadão revelou que o Palácio do Planalto despacha diariamente com integrantes do chamado ‘gabinete da ousadia’. O grupo conta com militantes petistas com milhões de seguidores nas redes sociais, como Thiago dos Reis, para “publicar vídeos que misturam desinformação e ataques a adversários políticos”.
Como mostrou o Estadão, entre os conteúdos populares publicados por Thiago estão títulos mentirosos, como “Anunciada a morte de Bolsonaro!”; “Revelada ligação de Bolsonaro com caso Marielle e provas aparecem!”; “Revelada ligação de Bolsonaro com Comando Vermelho”; e “Eduardo Bolsonaro ameaça de morte Alexandre de Moraes”.
Coordenação e operacionalização
Internamente chamado de “programa de voluntários”, o mecanismo interagia com a campanha oficial para a seleção de temas. Apelidado de “Zap do Lula”, “Time Lula” e “Evangélicos com Lula”, o acesso aos grupos se dava pelo site oficial de Lula. A operacionalização ficou a cargo de Ana Flávia Marques, especialista em comunicação digital.
Ela coordenou a comunicação da campanha Lula Livre, de 2018 a 2021, e fez parte da campanha de Fernando Haddad em 2018. Ana Flávia explicou que a estratégia de camadas funcionou, alcançando quase 100 mil voluntários. A tática era reverter o apoio a Bolsonaro entre os evangélicos, em que Lula tinha desvantagem.
Desafios e oposição
Os grupos também convocam mutirões de denúncias contra postagens de perfis políticos à direita e organizam horários de publicações em redes sociais. Peças como “Evangelho segundo Bolsonaro” eram compartilhadas, criticando o ex-presidente com mensagens como “Bolsonaro: o governo do ódio, da corrupção e da mentira”.
Os grupos são abertos e diferenciados por números, como “Zap do Lula 2530″ e “Zap do Lula 3500″, para troca de conteúdos pró-governo. Links para posts de influenciadores alinhados com o governo, como Thiago, são compartilhados.
O site oficial de Lula foi registrado em nome de Cleber Batista Pereira, que tem uma dívida previdenciária de quase R$ 100 mil.
Investigação e doações
O Instituto Lula entrou na mira da Lava Jato por doações de empreiteiras, que seriam lavagem de dinheiro. O STF suspendeu os casos. Em 2023, Ricardo Lewandowski, então ministro do STF, suspendeu o processo que envolve Paulo Okamotto.
A organização planeja voltar a receber doações de empresas para formação política, sendo atualmente financiado por contribuições de pessoas físicas.
Okamotto disse que os grupos de WhatsApp estão desmobilizados: “Eram supervoluntários que organizavam grupos de voluntários, mas com o final da campanha, esse grupo foi se diluindo”, diz. Ana Flávia Marques também afirmou que os grupos são mantidos por voluntários e que a organização não é mais a mesma sem a campanha.
*Fonte: Revista Oeste