Fundador do movimento defende ‘desapropriação de terras’ e eliminação dos ‘latifúndios’ no Brasil
Um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, criticou a falta de atuação do governo Lula para acelerar a reforma agrária no Brasil. Ele e o presidente são aliados.
Reforma agrária é o termo usado para se referir à redistribuição de terras em um Estado. Essa prática nasceu supostamente para garantir a democratização do acesso à terra, mas, para isso, é necessário uma desapropriação.
Em entrevista ao site O Joio e o Trigo publicada na quinta-feira 6, o líder do movimento classificou como “vergonhosa” a inércia dos primeiros 14 meses de Lula.
“É uma vergonha, não está fazendo nada na reforma agrária”, disse Stédile. “Já estamos há um ano e meio de governo, não avançamos. Desapropriação não avançou. O crédito para os assentados não avançou, nem o Pronera [Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária].”
O MST atuou assiduamente para a eleição de Lula em 2022. Mesmo com a insatisfação sobre a reforma agrária, Stédile reforçou a necessidade da defesa do presidente contra a oposição. Esses inimigos seriam, segundo ele, as multinacionais, o capital financeiro, o latifúndio “predador” e parte do agronegócio.
“Queremos defendê-lo frente aos seus inimigos”, disse o líder do MST. “Agora, o governo como um todo está aquém da nossa expectativa, da classe trabalhadora em geral.”
MST atual defende outro tipo de reforma agrária
Ainda na entrevista, João Pedro Stédile explicou que o MST passou por uma mudança na forma como defende a reforma agrária. Antes, o movimento entendia ser necessária a “reforma agrária clássica”, enquanto atualmente propõe a “reforma agrária popular”.
“A reforma agrária clássica se propõe a democratizar a propriedade da terra”, disse o líder do MST. “Ela ainda busca eliminar o latifúndio e transformar os camponeses em produtores de mercadorias para o mercado interno.”
Para Stédile, a ação do Estado é inviabilizada pela falta de aliança entre a “burguesia industrial” e os “camponeses”. Nesse sentido, a subordinação da burguesia ao capital estrangeiro não permitiria a aproximação com o campo.
“A essência da reforma agrária popular é que ela coloca no centro não mais o trabalho do camponês, mas a produção de alimentos para toda a sociedade”, explicou Stédile. “Ela coloca no centro o respeito à natureza e o desenvolvimento de agroindústrias, mas na forma cooperativa. E evidentemente que, para ela se realizar de uma forma universal no Brasil, ela teria que conjugar um governo popular e um movimento camponês forte.”
MST invade órgãos e pressiona governo
No mesmo dia da entrevista de João Pedro Stédile, em 6 de junho, o MST invadiu a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Maceió, capital de Alagoas. Cerca de 300 pessoas, entre MST, Comissão Pastoral da Terra e Frente Nacional de luta estiveram envolvidas na ação.
Essa foi a segunda invasão do órgão neste ano. Em ambas, os invasores protestaram contra a nomeação de Junior Rodrigues do Nascimento para o cargo de superintendente do Incra. Ele foi indicado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
“O órgão continua sob domínio de grupos políticos contrários à reforma agrária, e, por isso, as demandas referentes a essa pessoa permanecem paralisadas”, afirmou o movimento, em nota.
Em 17 de abril, o MST invadiu outra sede do Incra, em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. A motivação foi a mesma: pressão a favor da reforma agrária.
*Fonte: Revista Oeste