Declaração foi feita durante julgamento de caso de assédio a menina de 12 anos
O desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) Luís César de Paula Espíndola disse na quarta-feira 3 que “as mulheres estão loucas atrás de homens”. A fala foi proferida durante audiência na qual estava em julgamento o caso de uma menina de 12 anos que se sentiu assediada por um professor. Em nota, ele disse que não tinha intenção de menosprezar o comportamento feminino.
A adolescente contou que, em uma ocasião, o professor teria mandado uma mensagem para ela durante o horário da aula com elogios, além de piscadas e olhadas maliciosas. Com medo, a menina se escondia no banheiro para não frequentar a disciplina.
Espíndola não concordou em condenar o acusado por não querer “estragar a vida do professor”, além de afirmar que não se passava de ego de adolescente. Confrontado por uma desembargadora presente no julgamento, ele rebateu e disse que os argumentos apresentados por ela eram alegações do “discurso feminista”.
“Se vossa excelência sair na rua hoje em dia, quem está assediando, quem está correndo atrás de homens são as mulheres, porque não tem homem. Esse mercado está bem diferente. Hoje em dia, essa é a realidade, as mulheres estão loucas atrás de homens, porque são muitos poucos. É só sair à noite, eu não saio muito à noite, mas eu tenho funcionárias, tenho contato com o mundo. A mulherada está louca atrás dos homens”, declarou Espíndola, na sessão.
O desembargador seguiu com a fala de que não há homem suficiente e que as mulheres “estão loucas para levar um elogio, levar uma piscada, uma cantada educada, porque elas é que estão cantando, elas que estão assediando”. Ele continua disparando que, devido à falta de opções masculinas, as mulheres têm recorrido aos animais, citando especificamente os cachorros, e que a paquera é algo sadio, normal e que sempre existiu.
“A atração é coisa dos sexos, agora dizer que é uma afronta à sexualidade, um desrespeito… Nunca foi […] Ninguém está correndo atrás de mulher, porque está sobrando. É só andar por aí, no dia a dia”, afirmou.
Um trecho da declaração do desembargador foi postado nas redes sociais.
Inacreditável a fala do desembargador do TJPR Luís Cesar de Paula Espíndola, afirmando que, através da sua “experiência”, quem está assediando na rua são as mulheres. pic.twitter.com/RWosgwLR96— Luciano Ducci (@LucianoDucci) July 4, 2024
Desembargador do Paraná diz que não teve intenção de ‘menosprezar o comportamento feminino’; TJPR e OAB criticam magistrado
Em nota, Espíndola diz que “não teve a intenção de menosprezar o comportamento feminino”, argumentando que sempre defendeu a igualdade entre homens e mulheres na vida pessoal e em suas decisões.
“Lamento profundamente o ocorrido e me solidarizo com todas e todos que se sentiram ofendidos com a divulgação parcial do vídeo da sessão”, afirmou.
O Tribunal de Justiça do Paraná e a Ordem dos Advogados do Brasil do Estado também se pronunciaram. Em nota, o TJPR revelou que “não endossa os comentários feitos pelo desembargador” e que uma investigação preliminar foi aberta. Segundo a Corte, Espíndola terá prazo de cinco dias para se manifestar.
“O Tribunal reitera que não compartilha de qualquer opinião que possa ser discriminatória ou depreciativa, como, aliás, é próprio de sua tradição e história de mais de 132 anos”, finalizou.
A OAB-PR manifestou que as falas causam repugnância pelo aspecto jurídico e por violar a dignidade e a honra de todas as mulheres
“Além do nosso repúdio pelo conteúdo misógino, em alguns aspectos dessa fala homofóbicos, porque aborda o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, espera-se também que sejam adotadas medidas disciplinares e éticas em face desse magistrado”, disse a OAB.
Espíndola foi condenado em 2023 por lesão corporal em violência doméstica contra a irmã e contra a mãe. O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que ele pagasse quatro meses e 20 dias de detenção. Porém, cumpriu em regime aberto e ficou proibido de se aproximar da irmã e da mãe.
*Fonte: Redação Oeste, com informações da Agência Estado