Inquérito, que apura órgão de inteligência paralela durante governo Bolsonaro, não foi compartilhado com atual gestão
A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspeitaram da atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que está no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última fase da operação que apura a existência de uma “Abin paralela” na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Conforme o jornal Folha de São Paulo, a desconfiança das “novas gestões” fez que Moraes negasse o compartilhamento da investigação da Polícia Federal (PF) com a corregedoria do órgão de inteligência para abertura de sindicâncias internas.
Em documento enviado ao Supremo, o PGR, Paulo Gonet, disse que compartilhar essas informações “não parece recomendável neste momento processual” diante da “aparente resistência identificada no interior” da Abin.
Diferentemente do que pedia a PF, a PGR afirmou que não via urgência na abertura de procedimentos internos, sugerindo que as provas fossem compartilhadas apenas no fim das investigações.
“Em fases anteriores desta investigação, foram identificadas ações das novas gestões da Abin indicativas da intenção de evitar a apuração aprofundada dos fatos, o que ensejou a avocação do procedimento disciplinar ali instaurado pela Controladoria-Geral da União”, alegou Gonet.
Na quinta-feira 11, a polícia cumpriu mandados judiciais autorizados pelo ministro Moraes. Trata-se da nova fase da Operação Última Milha, que investiga a criação de uma “Abin paralela” para espionar autoridades e desafetos políticos, além de tentar interferir em investigações contra aliados.
Moraes, ao determinar a prisão dos suspeitos, afirmou que o PGR “reconheceu a possibilidade de interferência” na apuração ao ser contra o envio dos documentos à Abin.
A posição da PGR e a determinação de Moraes sobre o não compartilhamento das provas causaram desconfiança nos servidores do órgão de inteligência de que membros da cúpula poderiam estar entre os alvos investigados.
Tal suspeita recebeu reforço por parte do relatório da PF, que ressaltou que Luiz Fernando Corrêa ainda não era diretor-geral da Abin quando compareceu a uma reunião em que Alessandro Moretti, então diretor-adjunto, afirmou que a investigação em curso tinha “fundo político”.
Nos autos, a PF se referiu a Corrêa como “cidadão” e alegou não ter encontrado normativo interno da Abin que permitisse o compartilhamento de informações sigilosas com pessoas alheias ao órgão.
A reunião mencionada pela PF ocorreu em março de 2023, mas Corrêa foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva apenas dois meses depois, em 29 de maio. Servidores da Abin alegam que a agência ainda não passou a limpo a gestão do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor do órgão.
Apesar de a atual corregedoria ter sido nomeada durante o governo Bolsonaro, oficiais da Abin alegam que eles poderiam ter pedido a investigação de acontecimentos suspeitos.
O ex-diretor da Abin Victor Carneiro, aliado de Ramagem, indicou Lidiane Souza dos Santos em agosto de 2022. O mandato de Lidiane termina dia 31 de agosto e não deve ser renovado por mais dois anos.
No parecer, Gonet ainda destacou que as “ações das novas gestões” levaram as suspeitas para Controladoria-Geral da União. Mas autoridades defensoras de Corrêa alegam que ele é alvo de críticas de parte da Abin por ser policial federal.
Corrêa escolheu ainda Paulo Maurício Fortunato para a Secretaria de Gestão e Planejamento, terceiro posto na hierarquia da Abin. Fortunato foi exonerado pelo governo em 2023 depois de ser alvo da PF na mesma operação. Ele é servidor aposentado da Abin e ocupou postos de chefia no órgão durante a gestão de Ramagem.
*Fonte: Revista Oeste