Análise conduzida por um professor da Universidade de Michigan afirma que há 99,97% de chance de Edmundo González Urrutia ter vencido a eleição
Menos de um mês depois das eleições presidenciais na Venezuela, o ditador Nicolás Maduro ainda não apresentou as atas de votação que sustentariam sua “vitória”, conforme certificado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo chavismo.
A oposição, no entanto, continua defendendo a vitória de Edmundo González Urrutia, comprovada por 80% das atas obtidas diretamente nos colégios eleitorais e divulgadas on-line. Análises independentes confirmam os resultados apresentados pela oposição.
Um estudo recente conduzido pelo professor Walter Mebane, da Universidade de Michigan, examinou mais de 25 mil atas de votação divulgadas pela oposição. Com base nesses dados, ele concluiu que há 99,97% de chance de que os números apresentados pela chapa de González Urrutia sejam autênticos.
O professor utilizou a técnica Eforensics, que emprega a estimativa bayesiana, usada em análises de pesquisas de intenção de votos, para calcular a probabilidade de diferentes tipos de fraudes em votos individuais.
No caso venezuelano, Mebane analisou eleitores registrados, votos válidos totais e votos do vencedor para detectar irregularidades que poderiam favorecer os números de González Urrutia.
O método pode indicar três resultados: ausência de fraude, fraude incremental (em pequena escala) ou fraude extrema, capaz de alterar o resultado.
Detalhes do estudo
Nas eleições na Venezuela, apenas duas das mais de 25 mil sessões eleitorais mostraram indícios de fraude, com um número estimado de votos falsos de 57,9 — um valor muito baixo — e um índice de confiança de 99,5%. O estudo sugere que nenhum desses votos fraudulentos foi para González Urrutia.
“Outras eleições recentes na Venezuela têm mais fraudes no padrão eforensics e votos fraudulentos [que as de 2024]”, afirma o estudo.
“Como o modelo não gera nenhum aviso de que a estimativa apresenta problemas, posso dizer que isso é uma prova sólida de que a eleição mostrou González vencendo com grande margem de acordo com 80% das atas que foram divulgadas. Isso sem nenhuma fraude”, afirmou Walter Mebane em entrevista ao jornal Estadão.
O modelo de Mebane não pode determinar se as atas em si são forjadas, apenas estuda os dados nelas inseridos. No entanto, outras análises corroboraram a veracidade dessas atas, cada uma com um QR code e um código hash para verificar sua origem.
Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela não divulgou atas
Na Venezuela, cópias das atas são entregues diretamente aos fiscais de urna dos partidos. No dia da eleição, o CNE recebeu todas as atas por um sistema de totalização e deveria publicá-las no site imediatamente e divulgar os resultados urna por urna em até 48 horas, o que não ocorreu. A oposição coletou as atas e as publicou no site “Resultados con Vzla”.
Caso o CNE publique as atas originais, Mebane pretende submetê-las à análise do seu modelo.
“Eu vi que o lado do governo não liberou nenhuma evidência que seja para apoiar suas reivindicações, e talvez eles estejam fabricando evidências enquanto falamos”, acrescentou. “Quanto mais tempo demoram para liberá-la, menos crível será. Se eles liberarem os dados, a versão deles, claro, tentaremos obtê-la e rodar o modelo. Mas, neste ponto, é meio que sem valor algum, porque quem sabe como os dados serão?”
*Fonte: Revista Oeste