Estadão alerta para ‘a panela de pressão do funcionalismo’ no governo Lula

Servidores querem aumento prometido pelo petista e podem paralisar a máquina pública

Em editorial publicado nesta sexta-feira, 16, o jornal O Estado de S. Paulo alertou para o risco de uma greve geral do funcionalismo, que aumenta a pressão por aumento salarial prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O petista sempre “incentivou os trabalhadores a brigarem por seus direitos”, segundo reconheceu, ainda que em tom de brincadeira, no ano passado a própria ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.

O jornal lembra que o governo Lula concedeu aumento linear de 9% ao funcionalismo em 2023, mas, em 2024, como a intenção é fechar o ano sem déficit, um reajuste é incerto. Já a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) obtiveram reajustes escalonados, entre 2024 e 2026, que chegam a até 27%. 

Auditores da Receita Federal, que têm os mais altos salários do funcionalismo, conseguiram, depois de uma greve, um bônus de eficiência mensal que começará em R$ 4,5 mil neste ano e chegará a R$ 11,5 mil em 2026. Funcionários do Banco Central (BC), por sua vez, rejeitaram uma proposta de aumento de 13%, parcelado entre 2025 e 2026, e devem paralisar suas atividades nos dias 20 e 21 deste mês.

Nos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, além da suspensão de concursos públicos, praticamente não houve reajustes. Como a crise gerada pela pandemia, o governo conteve gastos.

Decisão do governo Lula de vincular reajuste ao funcionalismo à arrecadação é temerário, afirma o Estadão 

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Se o governo Lula continuar com ‘essa estratégia questionável’, poderá ‘colher tempestades nos próximos meses’, afirma o Estadão | Foto: José Cruz/Agência Brasil

Agora, para tentar conter a pressão do funcionalismo, a ministra Esther Dweck mencionou a possibilidade de o governo antecipar reajustes programados para os próximos dois anos, a depender do resultado da arrecadação. A área econômica informou que as receitas surpreenderam positivamente em janeiro e aventaram a possibilidade de dispensar um contingenciamento em março.

Porém, a decisão é temerária, alerta o Estadão. “A questão é que não se sabe, ao menos até o momento, o quanto a arrecadação federal efetivamente subiu, e muito menos se essa melhora se deve a fatores conjunturais ou estruturais. Se esse aumento se deve à taxação dos fundos offshore, por exemplo, não é improvável que ele não se repita ou desacelere nos próximos meses, uma vez que a lei recém-aprovada criou um incentivo para atualizar os estoques até 31 de dezembro do ano passado”, afirma o jornal. “Por isso, atrelar um aumento pontual da arrecadação a um reajuste de despesas obrigatórias e permanentes seria absolutamente temerário.”

Estadão afirma que embora necessário, o reajuste salarial aos servidores deve “ser feito sem improvisos e de maneira planejada, sem comprometimento das metas fiscais” e com prioridade para “os servidores da base da pirâmide salarial”. “É o oposto do que o governo tem feito, ao privilegiar as carreiras historicamente mais bem pagas e com remunerações mais próximas do teto constitucional”, constata o jornal.

O texto termina afirmando que se o governo Lula continuar com “essa estratégia questionável”, poderá “colher tempestades nos próximos meses”, como a paralisação de setores sensíveis à máquina pública. “As perspectivas não são boas”, finaliza. 

*Fonte: Revista Oeste