Jornais reclamam da postura adotada pela Corte e pelo ministro diante das denúncias feitas pelo dono da rede social Twitter/X
A mais recente atitude do Supremo Tribunal Federal (STF) não encontrou respaldo nem entre os principais representantes da mídia impressa do país. Nesta terça-feira, 9, os jornais O Estado de S. Paulo (Estadão), Folha de S.Paulo e O Globo publicaram criticas à forma com a qual a Corte se postou diante das denúncias feitas pelo empresário Elon Musk, dono da rede social Twitter/X, contra o ministro Alexandre de Moraes.
As críticas das três publicações constam em editoriais, textos que representam as opiniões institucionais por parte das empresas de comunicação. Nenhum dos três jornais se ateve ao mérito da questão, que surgiu a partir da publicação do caso já conhecido como “Twitter Files Brazil”, no qual o jornalista norte-americano Michael Shellenberger divulgou, na última quarta-feira, 3, série de e-mails em que executivos e funcionários do Twitter/X registraram a pressão por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a plataforma durante o período eleitoral de 2022; os alvos seriam políticos e influenciadores digitais próximos ao então presidente Jair Bolsonaro. Moraes, que é o presidente do TSE desde agosto de 2022, passou a ser alvo de cobranças públicas feitas por Musk, que finalizou a compra da plataforma no fim de outubro daquele ano.
O Estadão externou logo no início de seu editorial o que pensa a respeito do caso. De acordo com o jornal, a postura de Moraes, que mandou investigar Musk apenas por ter sido “alvo de suas críticas”, ajuda a reforçar “o caráter arbitrário dos inquéritos sobre fake news e milícias digitais”. A publicação aproveitou para chamar o ministro do STF e presidente do TSE de “Rainha de Copas”.
“O crime que Musk teria cometido virou pecado capital por estas bandas: ele criticou as ordens de Moraes para suspender contas de bolsonaristas no X e afirmou que reativaria essas contas — o que ainda não fez. Só isso, basicamente”, afirma a equipe do Estadão. “Mas foi o que bastou para irritar o mercurial ministro Moraes — cada vez mais parecido com a Rainha de Copas, a célebre tirana do País das Maravilhas que mandava cortar a cabeça de todo mundo que a contrariava.”
Além do Estadão, Folha e O Globo criticam Moraes no embate contra Musk
O Estadão não foi o único jornal, contudo, a criticar publicamente Moraes no embate contra Musk. Folha e O Globo adotaram posturas similares em seus editoriais.
Na Folha, a crítica ao ministro surge logo na chamada para o texto. Conforme o diário paulistano, a investigação contra o dono do Twitter/X “expõe excessos da Corte de de Moraes”. Nesse sentido, o jornal avalia que criticar o magistrado “não soa descabido”, uma vez que, segundo o veículo de comunicação, “já estendeu bem além do razoável uma frente de investigação nada transparente”.
“O inquérito das fake news está aberto há mais de cinco anos, em caráter sigiloso”, critica a Folha. “O das milícias digitais, instalado em 2021, foi prorrogado até o fim deste mês. Nesse período, o STF já cometeu erros evidentes de abordagem, como ao censurar reportagens jornalísticas no âmbito da eleição de 2022.”
“Moraes deveria evitar medidas extremas, como suspender o X no Brasil, ameaça usada contra o Telegram antes das eleições”
Para O Globo, “não se justifica que investigações continuem a tramitar em segredo de Justiça”, como em casos de inquéritos que correm há anos no STF. O jornal registra, por exemplo, que até hoje não se sabe o número exato de contas que a Corte mandou o Twitter/X bloquear — nem as alegações para esse tipo de determinação.
“A falta de transparência torna impossível avaliar se as exigências da lei foram respeitadas e empresta certa credibilidade às acusações de arbítrio contra o Supremo”, afirma O Globo, em trecho de seu editorial. “Moraes deveria evitar medidas extremas, como suspender o X no Brasil, ameaça usada contra o Telegram antes das eleições. Isso puniria milhões que usam a plataforma dentro da lei, acirraria o conflito e prejudicaria o debate sobre uma regulação eficaz, capaz de proteger a livre expressão e, ao mesmo tempo, pôr fim à terra sem lei das redes.”
*Fonte: Revista Oeste