O The Jerusalem Post chegou a noticiar a morte de Nasrallah, mas voltou atrás; incerteza reflete a estratégia de ambos os lados, dentro de uma guerra psicológica
O ataque desta sexta-feira, 27, ao quartel-general do Hezbollah, em Beirute, teve como alvo o líder máximo do grupo, Hassan Nasrallah, conforme confirmou uma autoridade israelense ao The Times of Israel. No entanto, apesar da intensidade do bombardeio, não há a certeza de que Nasrallah esteja morto.
O The Jerusalem Post chegou a noticiar a morte do líder do grupo terrorista, mas voltou atrás. Ao The Times of Israel, a autoridade disse acreditar que ele tenha morrido, mas não confirmou.
“É muito difícil imaginá-lo saindo vivo de um ataque como esse”, diz a autoridade.
A suposta morte de Nasrallah se torna uma peça importante na estratégia de ambos os lados.
A psicologia, na guerra, é um fator importante e, caso Nasrallah esteja vivo, o Hezbollah usará o ataque frustrado de Israel como um trunfo, um símbolo de força e estímulo para os seus combatentes.
O mesmo vale para as forças israelenses, que, apesar de sua estratégia não depender de apenas uma operação, darão um importante passo para neutralizar as ações do grupo terrorista.
A dúvida permanece, enquanto relatos da mídia israelense citam uma crescente avaliação israelense de que Nasrallah tenha sido eliminado.
A única possibilidade é a de que ele tenha saído do local antes do bombardeio. A Reuters deu a informação de que Nasrallah estava vivo, com base em uma fonte próxima ao Hezbollah.
A agência de notícias Tasnim, controlada pelo IRGC do Irã, também afirmou que ele estava vivo, assim como um agente adicional do Hezbollah.
A eliminação de Nasrallah seria um golpe muito pesado para o Hezbollah, na visão das Forças de Defesa de Israel (FDI).
Ao longo dos anos, ele se associou a uma imagem de força, por meio de discursos ameaçadores contra Israel, com promessas de ataques e de resistência do grupo terrorista.
Seminários religiosos
Nascido em 31 de agosto de 1960, em Beirute, Hassan Nasrallah estudou em seminários islâmicos no Irã e Iraque.
O turbante preto que se tornou a sua marca serve para mostrar que ele é descendente do profeta Maomé, algo necessário, entre os xiitas, para se tornar um líder religioso.
Com a proeminente barba branca em um rosto volumoso, ele se estabeleceu como o maior inimigo de Israel, em termos de retórica e propaganda.
Nasrallah é o mais velho de nove filhos. O pai dele, Abd al-Karim, era vendedor na capital libanesa.
O poder de Nasrallah começou a ganhar contornos durante a Guerra do Líbano (1975-1990).
O radicalismo islâmico, naquele momento, se tornou um dos pilares da política local, impulsionado por uma grande onda de refugiados desde a fundação do Estado de Israel, em 1948.
Inclusive com a chegada de grupos de palestinos, entre as centenas de milhares de expulsos da Jordânia em 1971, no chamado Setembro Negro, que aderiram à luta radical.
Filho de Nasrallah morreu em combate contra Israel em 2007
Nasrallah é casado com Fatima Yassin. Perdeu um filho, Muhammad Hadi, que morreu em 1997, durante combate contra tropas das FDI.
Os seus outros filhos são Zainah, Muhammad Jawad, Zeinab, Muhammad Ali e Muhammad Mahdi.
A partir da eclosão da guerra civil, em 1975, Nasrallah, com 15 anos, deixou Beirute com a família, mudando-se para uma vila perto de Tiro, também no Líbano.
A doutrina xiita foi aperfeiçoada quando ele se mudou para o Iraque, onde frequentou um seminário na cidade de Najaf.
Inseriu-se ainda mais nesta linha do islã quando estudou em uma escola religiosa em Baalbeck, Líbano, já tendo conhecido Abbas Musawi, que estabeleceu a escola e era o seu mentor.
Eles haviam sido expulsos do Iraque em 1978 pelo regime de Saddam Hussein, sunita, que se preparava para enfrentar o Irã, xiita, em uma guerra que se estendeu de 1980 até 1988.
Musawi foi um dos fundadores do Hezbollah em 1982 e se tornou líder do grupo tempos depois. Ficou no cargo até ser morto em um ataque de um helicóptero israelense, em 1992.
Nasrallah também participou da criação do Hezbollah, quando organizou milícias para lutar contra a invasão israelense do Líbano.
Entre 1987 e 1989 ele frequentou um seminário em Qom, no Irã, para retornar em 1991, já com Musawi como secretário-geral, que é o cargo máximo do Hezbollah.
Foi quando incrementou sua retórica terrorista, inspirado nos conceitos radicais do então aiatolá Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Iraniana, em 1979, que morreu em junho de 1989.
Em 1992, Nasrallah se tornou o secretário-geral depois da morte de Musawi.
Aos poucos, ele foi colocando o Hezbollah como uma força política dentro do Líbano, a ponto de desafiar o governo em várias ocasiões.
Como em 2008, quando declarou guerra ao governo libanês depois deste fechar a rede de comunicações do Hezbollah.
Houve um conflito armado, encerrado depois de uma negociação que só fortaleceu o grupo no cenário político local.
*Fonte: Revista Oeste