Republicano conquistou a maioria dos colégios eleitorais e derrotou a democrata Kamala Harris
venceu a disputa contra Kamala Harris e será o presidente dos Estados Unidos a partir de 2025. A vitória do republicano é um marco na história da política norte-americana, porque é a segunda vez que um ex-presidente volta à Casa Branca depois de perder uma reeleição.
Apenas Grover Cleveland, 22º presidente do país, havia conseguido tal façanha. Elegeu-se em 1885 e governou até 1889, ano em que perdeu a reeleição. Voltou à Casa Branca quatro anos depois para tornar-se o 24º presidente dos EUA. No caso de Trump, venceu a disputa em 2016, contra Hillary Clinton, e perdeu a reeleição em 2020, para Joe Biden.
A campanha de Trump centralizou-se em temas caros ao eleitor conservador, como a liberdade econômica, o controle da imigração e o fortalecimento da indústria dos EUA. Durante a campanha, o republicano prometeu retomar as políticas que implantou durante seu primeiro mandato, incluindo a redução de impostos, o endurecimento nas fronteiras e a renegociação de acordos internacionais. Sua base eleitoral se manteve fiel, especialmente nas áreas rurais e entre eleitores conservadores.
A primeira fase: Trump versus Biden
As eleições de 2024 foram disputadas de forma acirrada, com o país dividido entre o retorno de Trump e a continuidade das políticas de Biden, posteriormente carregadas por Kamala Harris. A eleição foi uma das mais polarizadas da história recente.
Agora, a expectativa global é que o retorno de Trump à Presidência traga mudanças significativas nas relações internacionais, principalmente com relação à China, à Rússia e à União Europeia.
Em seu primeiro mandato, o republicano adotou um tom pragmático: encontrou-se com Xi Jinping, com Vladimir Putin e até mesmo com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Essa conduta se mostrou diferente da verificada na gestão de Biden, que isolou os chineses, os russos e os norte-coreanos.
Atentados contra o republicano
Desde o começo da campanha, Trump adotou uma posição crítica às políticas dos democratas, acusando-os de enfraquecer a economia, de aumentar a insegurança e de colocar a política internacional dos EUA em risco. Kamala Harris, por sua vez, focalizou em associar a figura de Trump aos eventos de 6 de janeiro de 2021, quando ocorreu a invasão do Capitólio, e ao aumento da polarização no país. Endossada pela mídia, Kamala buscou retratar o ex-presidente como uma ameaça à democracia norte-americana.
A campanha de 2024 ficou marcada por ameaças contra Donald Trump. Em julho, por exemplo, o republicano sofreu uma tentativa de assassinato quando discursava para apoiadores. Na ocasião, um ex-militante democrata subiu no telhado de um prédio, perto de onde Trump discursava, e atirou contra o republicano. Mirou a cabeça, acertou a orelha e acabou morto pelo Serviço Secreto. Apenas dois meses depois, outro indivíduo tentou assassinar Trump em um clube de golfe. Não conseguiu.
Esses atentados reforçaram a tese de perseguição contra o republicano, o que ajudou a aumentar sua popularidade entre os eleitores e a fortalecer a visão de que Trump é um outsider. Ou seja, alguém de fora da política tradicional que combate o sistema.
Trump vira alvo de Biden
No calor da disputa, houve troca de farpas entre Trump e Biden, mesmo com o democrata fora da eleição. Embora Trump tenha concentrado as críticas em Kamala, Biden, atuando como apoiador de sua vice-presidente, ocasionalmente se dirigiu a Trump com comentários ofensivos. Em alguns momentos, Biden referiu-se ao republicano como “um risco para a segurança nacional” e como “uma vergonha para a história norte-americana”. Além disso, chamou os eleitores trumpistas de “lixo” e o associou ao fascismo.
Esses comentários, além de inflamarem o ambiente entre os eleitores, foram explorados pela campanha de Trump como uma prova de que o establishment democrata ainda o teme e o considera uma ameaça ao seu projeto político. Trump usou essa estratégia para se fortalecer e para mobilizar sua base de eleitores.
Sai Biden, entra Kamala
Com a desistência de Biden, depois do trágico desempenho do democrata no primeiro e único debate com Trump, Kamala Harris tentou se consolidar como uma liderança capaz de continuar o trabalho do atual governo. Ela buscou focalizar temas como sustentabilidade, acesso à saúde, reforma policial e apoio a minorias, em uma tentativa de firmar-se como uma liderança “progressista”. Contudo, sofreu resistência dentro do próprio partido e não cativou os eleitores.
Para se diferenciar, Kamala Harris enfatizou a própria trajetória e suas promessas de mudanças no sistema de Justiça Criminal, nas políticas de controle de armas e no avanço dos direitos sociais. O objetivo era atrair os eleitores que sentiam que Biden não conseguiu ser suficientemente “progressista” em seu mandato.
À medida que as eleições se aproximaram, a disputa se tornou mais acirrada. O país se dividiu entre os que veem Trump como uma figura necessária para trazer estabilidade econômica e firmeza nas políticas externas e os que acreditam que Kamala representa uma continuidade necessária para aprofundar os “avanços democráticos e sociais”. Desta vez, a população norte-americana optou pelos republicanos.
Vitória em Estados-pêndulo definiu a eleição de Trump
No sistema eleitoral norte-americano, alguns Estados têm papel desproporcional na decisão das eleições: são os Estados-pêndulo. Como o nome sugere, são um pequeno grupo que oscila entre candidatos democratas e republicanos, a depender da eleição.
Neste ano, os Estados-pêndulo mais observados foram Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Trump venceu em todos.
Uma das características principais de um Estado-pêndulo é sua inclinação política imprevisível. A Flórida, por exemplo, foi considerada um Estado-pêndulo dos anos 1990 até 2020, mas agora é vista como de maioria republicana.
“A Carolina do Norte não era considerada um Estado-pêndulo no início desta corrida eleitoral”, observa o professor doutor Roberto Moll Neto, que leciona história da América na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Em virtude do potencial de serem conquistados por qualquer um dos candidatos, os dois partidos frequentemente dedicam grande quantidade de tempo e de recursos para ganhar nesses Estados.
Arizona
Biden alcançou a Presidência em 2020 com o apoio do Estado do Grand Canyon, que votou no Partido Democrata pela primeira vez desde a década de 1990. O Arizona faz fronteira com o México por centenas de quilômetros e, por isso, tornou-se um ponto central do debate sobre imigração ilegal nos EUA.
“Os latinos são, aproximadamente, 30% da população do Estado e aproximadamente 24% dos cidadãos aptos a votar”, diz Moll.
O Arizona também foi palco de uma disputa sobre o acesso ao aborto, depois que os republicanos do Estado tentaram restabelecer uma proibição quase total de 160 anos à interrupção forçada da gravidez. O tema se tornou ainda mais polarizador em 2022, quando a Suprema Corte anulou uma decisão histórica que dava às mulheres o “direito constitucional ao aborto”.
Carolina do Norte
As pesquisas demonstraram o maior equilíbrio na Carolina do Norte desde que Kamala assumiu a campanha democrata. O Estado foi escolhido por Trump para a realização de seu primeiro comício ao ar livre, depois da tentativa de assassinato que sofreu em julho.
Trump venceu na Carolina do Norte, em 2020, por pouco mais de 70 mil votos, o que aumentou as esperanças dos democratas de que este Estado pudesse ser conquistado neste ano. Deu certo.
Desde a eleição de 2020, a Carolina do Norte ganhou quase 400 mil habitantes — a maior parte vinda de outros Estados, mas também formada por imigrantes hispânicos. Os novos moradores são principalmente estudantes e profissionais atraídos pelo chamado “triângulo da pesquisa”, uma área que concentra universidades, startups e empresas de tecnologia.
Trump reconquista a Geórgia
O Estado dos pêssegos foi epicentro da alegação de Trump sobre a suposta fraude nas urnas em 2020. O republicano alega que venceu por 400 mil votos, pelo menos, segundo um telefonema grampeado pela Justiça norte-americana. As falas levaram Trump a enfrentar uma de suas quatro acusações criminais.
A contagem oficial, bem como as recontagens posteriores, contabilizou que Biden o venceu por pouco mais de 10 mil votos. O parecer foi endossado pelo governador e pelo secretário de Estado da Geórgia, correligionários de Trump.
Um terço da população da Geórgia é afro-norte-americana, uma das maiores proporções de negros no país. Acredita-se que esse grupo tenha sido fundamental para Biden conquistar o Estado em 2020. No entanto, neste ano, via-se desde cedo o apoio da comunidade negra a Trump. Isso o levou à vitória.
Michigan
O Estado dos Grandes Lagos escolheu o candidato presidencial vencedor nas últimas três eleições, tendo votado em Trump, em 2016, e em Biden, em 2020. No entanto, Michigan demonstrou independência ao liderar uma campanha nacional contra o presidente.
Durante as primárias democratas no Estado, em fevereiro, mais de 100 mil eleitores votaram em branco como forma de protesto contra o apoio militar de Biden a Israel na guerra contra o Hamas.
Michigan é o Estado com a maior proporção de árabe-norte-americanos no país, muitos deles vindos da Palestina. Recentemente, Kamala endureceu o tom em relação a Israel, indicando um aceno a essa população. “A comunidade de eleitores árabes pode ser determinante em um pleito acirrado”, considera o docente da UFF.
Nevada
O Estado da prata vota nos democratas há várias eleições, mas já havia sinais de uma possível virada pelos republicanos.
Ambos os candidatos lutaram para conquistar a população latina do Estado. Somente os descendentes de imigrantes mexicanos representam 20% de Nevada, famoso pelos seus cassinos na cidade de Las Vegas. Trump levou.
A vitória de Trump na Pensilvânia
Ambos os lados têm feito campanha incansavelmente no Keystone State, onde Donald Trump sobreviveu à tentativa de assassinato. O Estado foi decisivo na eleição de 2020, apoiando Biden, que nasceu no interior do Estado.
A economia é o principal foco na Pensilvânia, onde os preços dos alimentos subiram mais rápido do que em qualquer outro Estado norte-americano, segundo o provedor de inteligência de mercado Datasembly.
Wisconsin
O Estado de Wisconsin também escolheu o candidato presidencial vencedor em 2016 e 2020, com uma margem de pouco mais de 20 mil votos em ambas as vezes. O Estado do texugo tem forte produção agropecuária e é o maior produtor nacional de queijo e manteiga do país. Trump afirmara que, se vencesse em Wisconsin, venceria “tudo”.
Historicamente, Wisconsin se destaca como o berço do “progressismo” no modelo norte-americano. Foi o primeiro Estado a adotar direitos trabalhistas, reformas econômicas, sociais e educacionais e a abolição da pena de morte.
*Fonte:Revista Oeste