O Brasil atualmente ocupa a 9º posição entre as melhores economias mundiais, porém, mais de 12 milhões de famílias perdem o sono diariamente por conta das dívidas. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apesar do programa de negociação de dívidas, Desenrola Brasil, a proporção de famílias endividadas no país continuou em 77,4% em setembro, mesmo resultado de agosto.
A pesquisa revela que as faixas de renda tiveram uma alta de 0,3 ponto percentual (p.p.) de endividados que recebem até três salários mínimos comparado a setembro de 2022. Do total, 30,2% estão com contas atrasadas e 18,3% desses consumidores afirmam não conseguir quitar as dívidas dos meses anteriores. O número é o maior da série histórica.
Só no Estado de São Paulo, onde se encontra o maior PIB nacional, o número de famílias endividadas chegou a 2.778.755, representando 68,7% em setembro, segundo a FecomercioSP. Destes, 440.964 assumem não ter condições financeiras de pagar as contas, sendo 10,9% do total.
Para o especialista Fernando Lamounier, educador, “a instabilidade econômica do país é o agente dificultador de um padrão de vida financeira saudável para o cidadão comum. A alta inadimplência deve-se à situação dos salários baixos e desemprego elevado”.
O cartão de crédito continua sendo a modalidade que as famílias mais se endividam, representando 86,2%, revela a Peic. O resultado aponta um aumento de 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado. No período, os juros do rotativo do cartão alcançaram níveis preocupantes, com média de 445,7% ao ano. Nos consumidores de renda média e baixa, o endividamento teve alta de 0,3%, porém, entre os de renda alta caiu 0,3%.
Lamounier aponta que a linha de crédito é vista como um valor adicional ao orçamento mensal e os altos juros pioram o cenário. “As famílias brasileiras vêm utilizando a modalidade para compras do dia a dia e a capacidade de parcelamento levou-as a acreditar que ao dividir uma compra a dívida fica menor, quando na realidade, as pessoas estão apenas antecipando as dívidas do próximo mês”, aponta.
No ano, entre os homens houve uma alta de 1,5% no uso da modalidade, mas entre as mulheres houve uma queda de 0,5%. Elas relataram preferir dívidas no consignado por conta das taxas de juros mais baixas, buscando assim alternativas fora das linhas de crédito tradicionais. O especialista destaca que, em todo caso, anotar as prioridades auxilia no planejamento para que se tenha condições saudáveis de manter a família financeiramente, sem gastos impulsivos.
O uso da regra 50, 30, 20, ajuda na organização das finanças e prioriza as despesas mais importantes, evitando o endividamento. A regra financeira é simples e separa o orçamento em três partes: 50% para gastos fixos e essenciais, 30% gastos variáveis e que podem ser cortados caso necessário e 20% para investimentos ou criação de um fundo de reserva.
A fim de manter-se sempre no azul, Lamounier recomenda: “Identificar os pontos de melhoria, analisar o mercado e traçar os seus objetivos é o básico para o planejamento anual, assim você estará preparado para longos períodos e evitará endividamentos“, analisa.