A audiência da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara dos Deputados que recebeu o ministro de Justiça e Segurança Pública (MJSP), Flávio Dino, nesta quarta-feira (25/10), foi marcada por discussões, bate-bocas e alfinetadas. E a confusão envolveu até mesmo parlamentares da oposição e do mesmo partido.
Durante sua participação, o ministro da Justiça e Segurança Pública disse que os deputados da oposição “não gostam de pobre”. A afirmação aconteceu após uma pergunta do deputado do PL, Nikolas Ferreira, que disse ser impossível as forças de segurança entrarem no Complexo da Maré com a tranquilidade do ministro e sem escolta policial. A fala foi baseada em um vídeo que circulou nas redes sociais, onde o ministro entrava na região dominada pelo crime organizado, acompanhado de auxiliares em dois carros oficiais. (Veja vídeo da época)
Como forma de defesa, Dino disse que os deputados da oposição não gostam de pobre, por isso fazem acusações desta natureza. “A polícia encontrou 47 fuzis em uma mansão na Barra da Tijuca e ninguém diz que a Barra da Tijuca é bairro de faccionário. Por que são ricos? Assumam que não gostam de pobre, que não gostam de povo.”
Nikolas Ferreira, como resposta, lembrou o ministro de onde nasceu, uma favela de Minas Gerais. E voltou a enfatizar que “é impossível um policial entrar no Complexo da Maré sem um aparato de segurança, pois seriam recebidos a bala”.
“É evidente que o seu trabalho ou a falta dele tem gerado consequências. Por exemplo: o homem que deveria ser o mais odiado pelo crime organizado, entra em um local que é dominado pelo crime organizado, que é o Complexo da Maré. Pelo que me parece, o senhor não demonstra nenhum ofensivo potencial ao crime, nenhum risco a ele. Afinal de contas, quando você olha a sua contundência com relação ao dia 8, e de fato, quem errou tem que ser punido, mas o cidadão comum pesquisa as suas declarações, podemos usar até o Twitter, que é um veículo que o senhor gosta de usar, terão muitas menções de terroristas. Mas, quando pesquisamos menções sobre o PCC, só temos duas”. E continua: “Quando olhamos isso, é difícil de explicar”.
Considerada uma das mais perigosas áreas do Brasil, a região do Complexo da Maré é dominada pelo crime organizado. Uma pesquisa realizada pela ONG local Redes Maré, entre 2018 e 2020, mostra que 63% dos moradores temem ser alvejado por balas na região.
Sessão com Flávio Dino também é marcada por bate-boca
O fato de o ministro da Justiça ter faltado em duas convocações da Comissão de Segurança Pública da Câmara, fez com que alguns deputados, membros do colegiado, fossem à oitiva de Flávio Dino nesta manhã com indignação.
O primeiro embate se deu em virtude da segunda falta do ministro, que aconteceu na terça-feira 24. Na ocasião, o ministro alegou que sofreu “ameaças à integridade física” por parte dos parlamentares da oposição.
Hoje, o ministro disse que um tenente-coronel da PM recomendou que ele não fosse à comissão de segurança. “Foi realizada uma análise de risco”, explicou. Neste momento, o deputado federal Éder Mauro (PL-PA) interrompeu Dino, pois não gostou da resposta dele.
O ministro Dino havia defendido seu direito a não comparecer às audiências na Câmara dos Deputados. “A ausência é um direito. Nem um réu é obrigado a comparecer para prestar depoimento e eu nunca fui, nem sou réu”, disse Dino.