Clezão, preso do 8 de janeiro, morre na Papuda

PGR havia emitido parecer a favor de o homem poder cumprir medidas cautelares em casa; ele tinha comorbidades

Cleriston da Cunha (o Clezão), preso no 8 de janeiro, morreu, nesta segunda-feira, 20, às 10h58, depois de um “mal súbito durante o banho de sol” na Papuda. O Corpo de Bombeiros esteve no local, mas não conseguiu reanimar o homem.

De acordo com laudos médicos obtidos pela reportagem, Cunha, de 46 anos, sofria de diabetes e hipertensão. Por isso, tomava medicação controlada. Ele também teve seis atendimentos médicos entre janeiro e maio, além de ter sido encaminhado para o Hospital Regional da Asa Norte, em maio.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, durante o julgamento dos primeiros réus do 8 de janeiro – 14/09/2023 | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Clezão, como era conhecido, tinha um parecer favorável à sua soltura, desde setembro, da Procuradoria-Geral da República, autora da denúncia contra os réus. A polícia o prendeu no Senado. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, contudo, não analisou o pedido.

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária emitiu uma nota: “O reeducando era acompanhado por equipe multidisciplinar da Unidade Básica de Saúde localizada na própria unidade prisional desde a entrada na unidade em 09/01/2023. Hoje, esta mesma equipe de saúde realizou manobras de reanimação assim que constatado o mal súbito até a chegada da equipe do SAMU e Bombeiros que foram imediatamente acionados”. O STF ainda não se manifestou.

Clezão, preso do 8 de janeiro morto na Papuda, não é o único com comorbidades

Em várias reportagens, foram noticiados que alguns presos no 8 de janeiro tinham comorbidades. É o caso da professora aposentada Iraci Nagoshi, com 70 anos.

Atualmente, ela cumpre medidas cautelares em casa. No entanto, ficou oito meses detida na Colmeia, sem atendimento médico adequado.

Outras presas também relataram problemas de saúde, enquanto ficaram no cárcere.

PGR pediu soltura de Clezão, preso do 8 de janeiro que morreu na Papuda

Em setembro deste ano, a Procuradoria-Geral da República (PGR) concordou com um pedido de liberdade apresentado pela defesa de Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão.

O órgão considerou que o fim da fase de instrução, com as audiências das testemunhas e do próprio réu, possibilitava que ele fosse solto. Relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes, contudo, não apreciou o pedido.

“O término das audiências para oitiva das testemunhas de acusação e defesa e a realização do interrogatório configuram importante situação superveniente que altera o cenário fático até então vigente, evidenciando que não mais se justifica a segregação cautelar, seja para a garantia da ordem pública, seja para conveniência da instrução criminal, especialmente considerando a ausência de risco de interferência na coleta de provas”, disse a PGR.

Nordestino e pai de família: quem era Clezão do Ramalho, preso do 8 de janeiro que morreu na Papuda

Baiano da cidade de Ramalho (no seu perfil do Facebook, aliás, Cleriston apresentava-se como “Clezão do Ramalho”), ele era morador de Brasília, no Distrito Federal. Casado com Edjane Cunha, deixa também as duas filhas do casal, aos 46 anos.

Familiares lamentam nas redes sociais

Posteriormente, seu sobrinho Cleison Bryan Chagas colocou um símbolo de luto na foto de perfil no Facebook. Nos comentários, alguém perguntou quem havia morrido: “Clezinho, de tia Ana”, respondeu Cleison. A nova foto de perfil tem recebido manifestações de apoio e solidariedade pela perda.

Exclusivo: ‘Clezão sempre vomitava, desmaiava’, revela preso da Papuda

Um dos condenados à prisão no julgamento dos atos de 8 de janeiro contou alguns detalhes sobre o estado de saúde de Clezão. Ele, que prefere manter sua identidade em sigilo, afirma que Cleriston sempre apresentou problemas de saúde no presídio.

“Ele nunca esteve bem lá dentro”, declarou o condenado, em depoimento. “Sempre vomitava, desmaiava. Muitas vezes teve de ir para o pronto atendimento. Ele desmaiava no pátio.”

Quanto ao tratamento dado pelos funcionários da penitenciária, a testemunha diz que “o médico da Papuda sempre foi atencioso com Clezão, mas o atendimento era demorado. Os carcereiros diziam que era frescura”.

*Fonte: Revista Oeste