Caso Choquei: mãe de Jéssica Canedo rompe o silêncio

‘Se eles tivessem parado, talvez minha filha ainda estivesse aqui’, disse Inês Oliveira, referindo-se ao perfil de fofoca

Inês Oliveira, mãe da estudante Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos, concedeu uma entrevista ao programa Cidade Alerta, exibido na TV Parnaíba, para explicar como está a rotina dos familiares desde o suicídio da filha, na sexta-feira 22. A jovem tirou a própria vida depois de ser alvo de difamação do perfil de fofoca Choquei.

Na entrevista, Inês relatou que Jéssica a procurou nos últimos dias e pediu que a mãe a ajudasse a conter a divulgação dos diálogos falsos entre a jovem e o humorista Whindersson Nunes. “Mamãe, peça a eles que parem”, teria dito a estudante, referindo-se ao Choquei. “Não estou aguentando. Faça alguma coisa.”

A mãe atendeu ao pedido da filha e gravou um vídeo, no qual solicitou ao perfil de fofoca que parasse de difamar Jéssica. “Se tivessem parado, capaz que minha filha estivesse aqui hoje”, lamentou Inês, ao lembrar que o Choquei divulgou as falsas conversas. “Eles que postaram primeiro. Nem sei o que é esse trem. Eles a estavam xingando.”

Segundo Inês, Jéssica estava com problemas psicológicos há tempos. “Não estava bem”, disse. “Estava doente. A gente tem muitos laudos. Isso aí a encarrilhou a cometer a tragédia. Não aguentou.”

A mãe disse que a filha passava a maior parte do tempo deitada no quarto, onde recebia visitas dos colegas. A vida da jovem era pacata. As saídas — poucas — eram para ir a consultas médicas.

“Ela passava por um período difícil, por essa depressão, sabe?”, disse a mãe, aos prantos. “Eu estava lutando, menina, dia após dia.”

O Choquei teve acesso às fotos de Jéssica por meio do Instagram de Inês

Jéssica acabara de concluir o ensino médio. Um mês antes, a família se mudara para a região onde mora atualmente, em Araguari, no interior de Minas Gerais. A intenção era ter uma vida mais tranquila, distante dos ruídos dos centros urbanos. Jéssica também decidiu parar de usar as redes sociais, em virtude do ambiente hostil.

“Foram no meu Instagram, pegaram fotos dela, tiravam prints”, disse a mãe ao Cidade Alerta. “Mentiram que ela tinha um caso com o moço. Nem redes sociais ela tinha. Conversávamos por telefone. Nem WhatsApp ela tinha. Mesmo com problemas de saúde, eu passava noites cuidado dela, vigiando-a, para que não fizesse nada. E o povo a massacrou.”

O velório de Jéssica ocorreu na sexta-feira. Um dia depois, o corpo foi encaminhado para o Cemitério Municipal de Araguari.

Caso de polícia

Nesta segunda-feira, Oeste informou que a Polícia Civil de Minas Gerais avalia marcar um depoimento com os administradores do Choquei.

Durante a semana, os investigadores tiveram acesso à necrópsia do corpo de Jéssica e fizeram um levantamento das publicações nas redes sociais que mencionavam o nome dela e de Whindersson.

O inquérito da Polícia Civil ainda está em fase inicial e investiga se, de fato, a morte de Jéssica é um caso de suicídio e se o perfil de fofoca instigou a jovem a tirar a própria vida.

A investigação está sendo conduzida pelo delegado Felipe Oliveira, de Araguari (MG). Ele explicou que essa apuração é de praxe e ocorre em todos os casos registrados inicialmente como suicídio.

O Código Penal prevê pena de prisão para quem induzir outra pessoa ao suicídio. A sentença pode chegar a quatro anos de prisão. Para a detenção, é preciso comprovar que um ou mais suspeitos tenham atuado com intenção dolosa, ou seja, com a intenção de que a vítima cometesse o suicídio.

De acordo com o delegado, ainda não há indícios de dolo. Mas outros crimes podem ser encontrados no decorrer da investigação. “Falsidade ideológica ou até algum crime contra a honra”, disse à CNN Brasil. “Se houver algo nesse sentido, vai ser objeto de outra investigação.”

*Fonte: Revista Oeste